Apenas mais um vendedor de flores.


Sou tristeza pura, de carro em carro, ofereço rosas por tão pouco preço. Ouvi tilintar da boca de sábios que foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante, eu um mero vendedor de flores nos faróis de uma cidade com almas fantasmas que é São Paulo. Com ainda a espelhar esperança no brilho de meu olhar, esperando que algum fantasma aceite a troca de algumas notas por uma simples e delicada rosa vermelha que foi regada com lágrimas de um simples vendedor que ainda, nessa cidade imensa, lhe sobrou um pingo de humanidade. E no meio dessa confusão, pensa que tem algum sentido na vida. A cada automóvel que ofereço a planta conhecida por simbolizar o amor, vejo cada ser humano sentado e segurando o volante como seres sem vida, os enxergo em preto e branco, e é quando cegamente fito uma moça tão branca com olhos de caçadora, que pega uma flor no meio de várias e sente o exalar do perfume deixando transparecer um sorriso de dentes mais brancos que sua pele e sendo pela primeira vez no meio de um mundo sem cor, onde só as flores eram vermelhas, eu passei a enxerga-lo de uma maneira grandiosa e única, passei a observar todos os simples detalhes da moça, foi os 30 segundos mais longos e bonitos de toda a minha vida. Quando a admirável moça foi-se por si só, o mundo passou a ser preto e branco novamente. Sou um vendedor de rosas com a triste dor da partida por nunca mais tê-la visto. Cada flor não vendida, cada flor murcha, cada flor que se perdia com o tempo, era dor, todas eram simplesmente únicas. Passei a parar de corta-las e apenas a admira-las no meu pequeno jardim, sinceramente não fazia sentido algum vende-las por tão pouco valor se elas seriam perdidas em poucos dias. Sou um ex-vendedor de rosas com medo da partida, do final em vão e contaminado pela saudade da moça da rosa de diversas cores.

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